DIdi Krepinsk

Reserve Aqui 23/05/2017

Eu gostei tanto, mas tanto do deserto do Saara, que eu acho que essa parte da viagem merece um post inteiro! Kkk. Se você estiver com viagem marcada para o Marrocos ou estiver pensando em ir (quem sabe depois de ler esse post kkk), NÃO deixe de fazer esse programa! É único e memorável! No post anterior eu mencionei que nos hospedamos no hotel Dar Ahlam por três noites, mas na verdade nós passamos a segunda noite no meio do deserto #glamping (“glamorous camping”)! Hahaha. Situado no meio das dunas do Saara, o luxuoso acampamento pertence ao Dar Ahlam, então todo serviço é do hotel! Como não podia ser diferente, fomos de bike!

Saímos do Dar Ahlam usando nossas roupas de bike e dirigimos por cerca de 3 horas até chegar no local onde começamos a pedalar. No caminho fizemos um pitstop numa cidadezinha chamada Essaada. O lugar é super típico e tem ZERO turistas, então foi engraçado ver o povo local na sua rotina, ovelhas pelas ruas e calçadas, etc. Olhem as fotos que vocês vão entender porque me diverti! O cenário é totalmente diferente do que estamos acostumados! Inclusive aqui paramos em um café que só tinha homem – o único lugar da viagem que não me senti confortável, especialmente porque não estava com as roupas adequadas, cobrindo tudo. E falando em fotos, acho válido mencionar que eu não me senti muito à vontade para tirar fotos das pessoas lá! Eles ficam bravos, como se estivessem ofendidos, não sei, então #ficaadica! Kkk

Essa semana me perguntaram como eu conseguia ficar online o tempo todo durante a viagem, então achei legal falar disso aqui também! De modo geral o meu celular (vivo) funcionou bem no Marrocos, com algumas exceções. Em cidades maiores como Marrakech e até Ouarzazate, o celular funcionou perfeitamente bem – voz e dados! Mas nos outros lugares mais remotos eu realmente não tinha sinal! Mas todo lugar tem wi-fi hoje em dia: hotéis, restaurantes, cafés e lojas. Até o café que mencionei acima tinha wi-fi kkk! Mas do momento que saímos do hotel até voltar lá no final do dia seguinte, eu fiquei totalmente incomunicável!! Mas quer saber? Foi ótimo! É bom desapegar do telefone de vez em quando.

A estrada para o deserto passa pelo Anti-Atlas e é impressionante como a paisagem vai mudando ao longo do caminho. Ao invés de uma paisagem plana e sem graça, nesse trecho ela começou a ficar mais interessante e dramática, com rochas enormes, cheias de desenhos geométricos, e muitas palmeiras “selvagens” crescendo no meio. O negócio também começou a ficar mais rústico – antes de começar a pedalar, utilizamos o banheiro do Café Jamal (o único na proximidade), que nada mais era do que um buraco no chão! Hahahahaha! Que horror! Kkk

Começamos a pedalar na pior hora do dia, no ápice do calor, às 12h30! Imaginem o calor que não estava fazendo no deserto essa hora! O trajeto desse dia tinha poucas subidas, apenas um bem íngreme logo no início, e muitas partes planas, então teoricamente, deveria ser a mais fácil, mas acabou sendo a mais difícil! Nesse dia tinha um vento de cauda fortíssimo, exigindo o dobro do esforço. O vento estava tão forte que quase me derrubou da bicicleta umas 3 vezes, sem exagero! Eu tive que usar a marcha mais pesada possível para o vento não arrastar a bike. O trajeto que deveríamos ter pedalado na Route de Zagora era de 40 km, mas parecia ter 100 km nessas condições! As pessoas foram desistindo de pedalar ao longo do caminho e entrando nos carros. Quando cheguei no km 17 e vi que a maioria tinha desistido, eu também abandonei a bicicleta. Logo adiante estavam formando mini tornados de poeira – bizarro!

O percurso de bicicleta terminava no hotel Bab Rimal em Foum Zguid. Bab Rimal em árabe significa “a porta para o deserto” (“bab” = porta e “rimal” = areia). Paramos aqui para almoçar e relaxar um pouco depois da pedalada intensa antes de seguir viagem! Eles nos deram quartos para tomar banho e se trocar já que esse era o último lugar que poderíamos fazer isso até voltar para o Dar Ahlam no final do dia seguinte. No almoço serviram um “kofta tagine” (almôndegas) delicioso com um super tempero! Às 17h saímos de Bab Rimal nos nossos 4×4 e entramos no deserto depois de 15 minutos!! A entrada oficial do deserto é marcada por uma cancela onde você deve informar seu nome, quando vai voltar, etc. Esse controle é feito para segurança e não para restringir o número de visitantes. Basicamente, se você não voltar no dia avisado, eles saem procurando, pois quer dizer que você perdeu ou algo mais grave aconteceu.

Uma vez dentro do deserto, andamos por mais 2 horas numa estradinha de terra/areia que pulava pra burro até chegar nos camelos! Eu estava achando tudo o máximo, mas minha mãe estava odiando chacoalhar hahaha. Se você enjoa facilmente em viagens de carro, já vá preparado! No caminho vimos alguns camelos e um bebezinho tão fofo!!!

FUN FACT 1: Você sabe qual é a diferença entre um camelo e um dromedário?! O camelo tem duas corcovas, enquanto o dromedário tem apenas uma. No Saara você encontra os dromedários, que são utilizados como animais de tração. Eles costumam ser muito dóceis e calmos, e geralmente cobrem 45 km por dia, ou 30 km se estiverem com carga. Sabe como falamos que fulano tem uma memória de elefante? No Marrocos, quando alguém tem boa memória, essa pessoa tem a memória de um camelo! Kkk. Esse é o ditado popular!

A paisagem vai aos poucos se transformando, com a areia tomando conta do chão e as dunas de areia se formando. É lindo! Para contribuir ao nosso dia e dar uma dose extra de aventura, pegamos uma mega tempestade de areia. Nossos motoristas estavam sem GPS e quase se perderam, pois não dava para enxergar NADA! Eles chegaram a ficar realmente preocupados uma hora. Aventura gente! Hahaha. Graças a Deus eles conseguiram avistar o caminho certo e conseguimos chegar ao local onde os camelos deveriam estar, só que quando chegamos, nada dos camelos! Hahaha. Começamos então a dar voltas até achar os camelos que estavam escondidos entre as dunas para se protegerem da ventania. Eles tiveram até que mudar o caminho para chegar no acampamento. Gente, vocês não têm IDEIA da ventania!! Era areia voando para todo lado, na cara, na boca, nossa! Hahaha que experiência! Antes de subir nos camelos, os guias do deserto nos vestiram com roupas locais, berber style: um “shesh” e um “djellaba” azul. Achei ótimo, porque fiquei super protegida do vento dessa maneira!

FUN FACT 2: Você sabe o que é um “Shesh”?! Esse é o nome dado ao tradicional turbante utilizado pelos homens Touareg para se proteger do sol e da areia soprando no deserto. Os homens Touareg são conhecidos como os “Homens Azuis do Saara”, pois a pele deles é geralmente manchada de azul escuro por causa das roupas e turbantes índigo (azul escuro) que eles usam. Apenas os homens Touareg podem usar esse turbante, mas para isso eles precisam atingir a idade adulta. A tradição do turbante começou com a crença de que ele poderia afastar os maus espíritos.

Às 19h30 subimos finalmente nos camelos e fizemos um sunset ride MARAVILHOSO!! As cores no deserto são outras! Aquele sol amarelo enorme se pondo, tipo uma bola de fogo, e um céu rosa contrastando com a cor da areia nas dunas. O passeio não durou muito, apenas 20 minutos, mas foi lindo – valeu muito a pena! Eu já tinha andado de camelo algumas vezes, mas é sempre uma experiência divertida, fora que eu amo camelos! – acho eles uma graça!! Kkk. O nosso acampamento ficava logo no início das dunas! Quando você olha para o horizonte e vê aquele infinito de areia, sem nenhum ponto de referência em vista, dá até medo de imaginar como devem ser as dunas nas profundezas do Saara!! Eu rapidamente entendi a necessidade do controle na entrada/saída e percebi o quão perigoso o deserto pode ser! Para se perder é um minuto!

Fomos recepcionados na chegada com um chá de boas-vindas, muitas lanternas acesas e música! Me senti num filme com um cenário tão mágico! O Dar Ahlam Nomad leva o termo #glamping para outro nível! As luxuosas tendas eram separadas por dunas de areia, dando bastante privacidade. Elas são bem espaçosas e super charmosas. Além disso, cada uma possuía água na pia para lavar o rosto e escovar os dentes, e um banheiro decente que funcionava direitinho. Eu não sou uma pessoa medrosa, mas se tem algo que eu odeio é inseto! Quando cheguei na minha tenda logo vi um besouro (desert beetle) e fiquei tensa hahaha, mas o guia me jurou que era inofensivo. Na hora eu lembrei do filme Aladdin, não me pergunte porque! Se você lembrar do começo do filme, talvez você me entenda! Kkk. Eu também estava na nóia de escorpiões, mas aparentemente é raro encontrar um nessa região.

Depois de nos instalar, fizemos um aperitivo sobre uma duna de areia, com direito à música marroquina ao vivo, e depois descemos para o jantar sob as estrelas, ao redor de uma fogueira e dezenas de lanternas. Realmente o camp é um lugar dos sonhos! O cardápio do dia era “harira” de entrada, uma tradicional sopa marroquina feita com tomates e lentilhas, e “beef tangia” com “vegetable tagine” de prato principal. Uma espécie de carne assada, “tangia” é o nome do pote no qual a carne é cozinhada por 7 horas com mel, manteiga e 35 especiarias. A carne derrete na boca, é uma delícia! De sobremesa serviram pedacinhos de laranja e cenoura cristalizados e claro, chá de hortelã.

O dia foi muito longo e cansativo, então depois do jantar voltei para minha tenda crente que eu iria capotar, mas aí começou a maior ventania e meu sono foi para o brejo!! Eu não dormi direito essa noite, passei quase a noite inteira em claro. Consegui dormir finalmente às 4 am depois de muita insistência, ouvindo música no meu celular com o volume no máximo, para não ouvir todo barulho da tempestade. Eu tinha certeza que a tenda ia sair voando, deu muito medo!! Hahaha. A minha cama estava no canto do quarto, encostada na lona, então toda vez que uma rajada de vento soprava, batia lá e parecia que alguém estava literalmente socando a tenda, não foi nada agradável! Era areia por todo lado, na cama, na cara, na boca! Também fiquei com medo das lanternas quebrarem e a tenda pegar fogo. Foi muito tenso, mas sobrevivemos! Quando acordei metade da parte da frente tinha desabado! Para vocês terem uma ideia da tempestade, soubemos na manhã seguinte que ela fez um barco naufragar na costa do Marrocos…que tal?! Eu deveria ter comprado uma camiseta escrito “I Survived a Sandstorm!” hahaha. Mas apesar de tudo isso, eu ainda amei dormir lá e não sei quando vou poder fazer isso de novo! Aventuras fazem parte e depois viram as melhores histórias!

Eu estava exausta na manhã seguinte, obviamente, mas mesmo assim acordei às 6:30 am para ver o sol nascer. Mesmo não tendo sido um sunrise glorioso como eu queria, valeu a pena. O café da manhã foi servido em cima das dunas, um cenário simplesmente de tirar o fôlego. A luminosidade nessa hora do dia é uma coisa! O sol faz sombras, destacando as ripinhas na areia causadas pelo vento. É lindo demais! Eu me apaixonei pelo deserto e por mim dormia mais uma noite!  O pessoal do camp deu um potinho de vidro de souvenir para cada um guardar e levar consigo um pouco de areia do deserto do Saara – eu achei o máximo! Às 8:30 am já estávamos na estrada novamente e voltamos pelo mesmo caminho que viemos – 2 horas para sair do deserto e chegar em Bab Rimal. Depois levamos mais 1 hora até chegar na associação que vende os melhores tapetes marroquinas da região. E de lá, mais 2h30 até o hotel Dar Ahlam, em Skoura. Sem dúvida a viagem foi BEM maçante, mas valeu cada segundo. Dormir no deserto foi uma experiência única e inesquecível, e acho que talvez isso tenha sido o “highlight” da viagem.

MELHOR MOMENTO: Assistindo o sol nascer no horizonte sentada em cima de uma duna de areia com minha capa preta de cashmere! Me senti num filme! Hahaha

NÃO CONSIGO PARAR DE PENSAR EM: O MEDO que eu senti com o barulho do vento à noite, achei que a tenda ia sair voando!!

IMPERDÍVEL: O passeio em cima dos camelos com o sol se pondo! Indescritível. E eu gosto pouco de sunsets né?! Kkk.

QUANDO IR: No inverno pode ficar muito frio no deserto à noite, então eu recomendaria ir em qualquer época menos nessa! A temperatura estava bem agradável quando eu fui, e de manhã cedo estava friozinho, mas nada demais! 

O QUE LEVAR NA MALA: Depende da época que você for, mas é sempre bom levar um agasalho ou jaquetinha mais quente caso faça frio à noite ou logo cedo de manhã. No quarto do nosso hotel encontramos umas capas pretas de cashmere incríveis então resolvemos levar para o deserto, e foi super útil de manhãzinha! Leve um chinelo para andar nas dunas enquanto estiver lá! O seu tênis vai lotar de areia, não vale a pena. A melhor coisa é andar descalço! E claro que leve uma calça para andar de camelo, de preferência uma fácil de lavar e que você não vai ligar se ela ficar com cheiro de camelo depois de usar hahaha! E por último, para as mulheres, leve também um vestido longo fluído! Sempre tem vento no deserto e as fotos ficam lindas com o movimento!

ÚLTIMA DICA!

Pessoal, cuidado para não confundir o deserto do Saara com o deserto de Agafay que fica cerca de 1 hora de carro de Marrakech – não são a mesma coisa!! O deserto do Saara, como vocês puderam perceber, é MUITO longe de Ouarzazate (6h de carro), então imagina de Marrakech, que fica mais para o norte! Em Agafay você pode andar de camelo e dormir em tented camps, mas você não irá encontrar as lindas dunas de areia! A parte do deserto que eu estava era quase na fronteira com o Saara Ocidental, uma parte do deserto disputada até hoje por marroquinos e argelinos. Se você não tiver tempo de ir até o Saara, mas quiser um gostinho do deserto, Agafay pode ser a solução. O dono do Riad Farnatchi em Marrakech também me contou que existem algumas companhias de luxo que oferecem traslados privativos de avião para o Saara por um preço viável – pode ser outra solução!

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